quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

RECEITA PARA LAVAR PALAVRA SUJA - Por Viviane Mosé



RECEITA PARA LAVAR PALAVRA SUJA




Mergulhar a palavra suja em água sanitária.

depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.

Algumas palavras quando alvejadas ao sol

adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida.




Existem outras, e a palavra amor é uma delas,

que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.




São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.

Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada.

Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão.




Agora nunca vi palavra tão suja como perda.

Perda e morte na medida em que são alvejadas

soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura,que é capaz de esvaziar o vigor da língua.




O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho

em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.




O perigo neste caso é misturar palavras que mancham

no contato umas com as outras.

Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.




Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.




Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.

Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras

sob o risco de perderem o sentido.




A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva,

produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.




Muito importante na arte de lavar palavras

é saber reconhecer uma palavra limpa.




Conviva com a palavra durante alguns dias.

Deixe que se misture em seus gestos, que passeie

pela expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite, não a seu lado mas sobre seu corpo.




Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne,

prolifera em toda sua possibilidade.




Se puder suportar essa convivência até não mais

perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.




Uma palavra LIMPA é uma palavra possível.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Mario Quintana - Por pura poesia!


De um ano para cá, veio-me o fascínio em completar a coleção Quintana! Comecei bem, com A Vaca e o Hipogrifo.  Não acreditei na idade em que esse homem chegou, nem como poderia ser de uma poesia tão atualizada, em tempos como hoje.


Continuei assim minha feliz caminhada em busca do Mario Quintana!

Recentemente, ganhei a obra Esconderijos do Tempo... E que susto eu tomei quando descobri que o Quintana, em especial nesse livro, não só falava do tempo, silêncio ou da morte... Ele escreveu sobre mim!


ELEGIA NÚMERO ONZE
Não, não é uma série de pontos de exclamação
é uma avenida de álamos...
E o que, e para quem, clamariam então?!
Deserta está a cidade.
Todas as avenidas, todas as ruas, todas as estradas, atônitas
se perguntam se vêm ou se vão...
Em nada lhes poderiam servir esses postes de quilometragem:
estão apenas desenhados, como num mapa.
Ah, se houvesse uns passos, ainda que fossem solitários...
Se houvesse alguém andando sozinho.., e bastava! São os
passos
- são os passos que fazem os caminhos.
Deserta está a cidade.
Se houvesse alguém andando sozinho
para ele se acenderiam então, como um olhar, todas
as cores!
Porque a cidade está cega, também.
O que não é visto por ninguém
não sabe a cor e o aspecto que tem.

A cidade está cega e parada com a descor de um morto.
Porque tudo aquilo que jamais é visto
- não existe...


(Esconderijo do Tempo - 1980)

domingo, 9 de março de 2014

O Lobo da Estepe - Só Para Loucos!




E quando você tem a felicidade de ter em mãos o Hermann Hesse, sua nefária filosofia toma rumos diferentes! 
Você não sabe se “é” ou se apenas “estar”!


“Não sabia. Também nada sabia sobre a autenticidade de meus próprios sentimentos.
É preciso que se viva no normal e no possível para que saiba algo destas coisas.”



O Lobo da estepe tem lugar garantido na estante pois se torna leitura essencial para aqueles que ainda não encontrou a porta que os convida a um Teatro Mágico..."Delicioso suicídio”! 


Talvez seja só para raros - só para loucos!



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Carta de Fernando Sabino para Clarice Lispector.

Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1953

Clarice,
Gostei de saber que você está com a alma mais sossegada. O sentimento de grandeza que você acha que está perdendo talvez agora, é que você esteja adquirindo. Sua predisposição para ficar calada não é propriamente uma novidade: a novidade é estar aceitando, inclusive, o silêncio. É bom isso, dá mais paciência, mais compreensão, dá mais sentimento às coisas - E dá grandeza.

Fernando.

  

sábado, 6 de julho de 2013

ONCE



APENAS UMA VEZ, se permita saber que você não é o único sozinho! 

ONCE nos permite isso. 

E o que são finais felizes, quando temos todo um script perfeito?


Esse filme tem que ficar na Estante, porque ele é a cara da Estante. Glen Hansard e Maketa Irglove cantou algumas verdades sobre corações machucados. 


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Filme: O Palhaço

"O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou Palhaço!"


Que Selton Mello é codinome de sensibilidade isso ninguém duvida... Mas O Palhaço foi mais longe.

Um filme que retrata a ausência da graça de um palhaço vazio, tocou mais que divertiu. 
O palhaço foi para a Estante pela fotografia, musica, roteiro, mas principalmente pelo sentimento - Ou a falta dele! 



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

René Char

"Cumpre em relação aos outros aquilo que só a ti próprio prometeste." 


"Acumula, depois partilha. Sê a parte mais densa do espelho do universo, a mais útil e a menos aparente."